Em 1996, ano do lançamento da Animax, a cena anime brasileira finalmente experimentava sua alvorada. O sucesso avassalador de Cavaleiros do Zodíaco na TV parecia ter dado o impulso que faltava para o surgimento das primeiras publicações especializadas (primeiro a Japan Fury; depois, a Animax), eventos e um público de escala nacional. Embora naquele momento ainda houvesse poucas iniciativas concretas, a percepção geral era de que um futuro brilhante se iniciava naquele momento.
Nesse mesmo ano ganhei meu primeiro computador com modem. E descobri então que, no mundo virtual a que ganhara acesso, também uma nova era se iniciava – embora não sem alguma angústia. A ascenção mundial da Internet havia declarado o fim dos BBS’s: no Brasil, a cena ainda estava ativa, mas já se encontrava em franca decadência. Os serviços maiores se convertiam em provedores de acesso à Internet (na maioria dos casos apenas adiando o inevitável), enquanto os menores simplesmente encerravam as operações.
Apesar do clima melancólico de fim-de-festa, pude pelo menos sentir o gostinho do que havia sido a era BBS – a experiência única, erradicada pela amplitude do cyberspace atual, de pertencer a um pequeno mundo virtual. Cada BBS era uma pequena Internet, provendo os mesmos serviços que hoje nos são tão familiares – correio eletrônico, fóruns, chat, download de arquivos e até games on-line – mas dotada de uma personalidade própria, moldada pelo seu propósito, administradores e membros.
E foi nesse breve momento de co-existência entre dois mundos – um apenas começando a vislumbrar seu futuro, o outro já olhando com nostalgia para as glórias do passado – que pude participar da efêmera experiência que foi o Anime Japan Fury BBS. Contando com a colaboração dos editores da Animax, o AJF foi, até onde sei, o primeiro e único BBS de anime do Brasil: e toda noite eu estava lá, participando dos fóruns, baixando vídeos (mudos) e músicas (em formato MIDI) da então gigantesca base de downloads. Uma vez até participei de chat com Sérgio Peixoto, que me congratulou pela participação ativa na comunidade. Numa época em que anime no Brasil se resumia a Animax, Cavaleiros e uma magra página em português na Internet, o AJF era meu oásis de conteúdo em meio a um vasto deserto de indiferença.
Se bem me lembro, o AJF saiu do ar antes do fim daquele mesmo ano. Descobri recentemente que o motivo foi a desistência do encarregado técnico da equipe; mas de todo jeito é difícil imaginar que ele pudesse sobreviver por muito mais tempo, já que pelos R$ 30,00 da mensalidade era perfeitamente possível na época assinar um BBS maior, com acesso à Internet incluído no pacote. Nos meses e anos seguintes o lado “animesco” da Internet se desenvolveu bastante, e nunca fiquei sem videozinhos e MIDI’s pra baixar, ou mailing lists onde participar de furiosas e intermináveis discussões; mas jamais esqueci o AJF e seu adorável clima de cidade pequena.
Autor: Helio Perroni (Heresia Mecanizada)
5 comentários
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Como eu gostava da Animax.
Pois é, a nossa BBS foi pro saco porque o Inocêncio, que bancava tudo (inclusive a BBSex, de onde ele faturava uma nota), acabou desistindo de todo o projeto.
Por um simples motivo: não dava lucro, não servia nem prá pagar as contas de água.
Eu cheguei a ser operador dos canais da Japan Fury durante dias, especialmente à tarde, quando as linhas telefônicas ficavam mais calmas.
Era uma putaria só! Não havia controle de nada, era uma beleza! E cada imagem era valorizada pois demorava o diabo prá baixar… E raramente se encontravam imagens hentai, rippadas de games eróticos do MSX japonês ou suas plataformas malucas.
Mas tamos aí, a vida continua e podemos baixar alguns gigas de hentai em algumas horas! Antes, baixar 200kb de hentai era um sufoco!
Era divertido mas tudo que é bom um dia acaba.
Putz!!! De onde esses caras tão saindo?!
Sem brincadeiras, não peguei a era BBS mas lembro os encontros no Shopping Vitoria. 😉
ectvmj Excellent article, I will take note. Many thanks for the story!
Welcome.