Entrevista com Sr. Toshihiko Egashira(ex-proprietário da Everest Vídeo)

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“Entrevistamos o Sr. Toshihiko Egashira , ex-proprietário da Everest Vídeo, que foi o grande responsável pela vinda dos Tokus ao Brasil no final dos anos 80. Ele nos atendeu super bem e o que era para ser uma entrevista rápida acabou se tornando um longo bate-papo que durou mais de 2 horas. Durante a conversa, o Sr. Toshi contou tudo sobre a sua vida, desde quando começou a trabalhar com vídeo em 82, quando teve a idéia de importar as séries e como tudo acabou. Hoje, ele é proprietário de uma clínica médica de tratamento a laser, porém ainda possui os direitos sobre as séries na América do Sul e ainda mantém a empresa Tikara Filmes “viva”, jurídicamente falando.
As perguntas feitas ao Sr. Toshi foram enviadas por fãs de todo o Brasil, esperamos ter conseguido tirar todas as dúvidas sobre as séries e por fim em alguns boatos também.

Quando e como o senhor teve a idéia de trazes essas séries para o Brasil?
Toshi: É uma história muito simples, eu era dono de uma locadora na Liberdade, a Golden Fox, e lá alugava fitas de programas gravados da TV japonesa … as fitas desse tipo de heróis eram as mais alugadas, não só pelos japoneses, mas por todas as pessoas em geral….nem era Jaspion ou Changeman, eram personagens anteriores a esses… aí um dia eu estava conversando com um dos meus clientes que por sinal era diretor do SBT e comentei sobre esses heróis, ele me disse: “Toshi, negocia a vinda dessas séries, distribui elas aqui no Brasil que vai ser um sucesso!”. Eu falei para ele ser meu sócio e ele concordou, comecei a planejar tudo e na hora de ir pro Japão, esse meu amigo pulou fora, pois não teria tempo pra ver isso, mas me deu o maior apoio e eu fui para o Japão com a cara e a coragem…chegando lá, fui até a Toei e expliquei para o diretor comercial que eu era filho de imigrante e que queria levar essas séries japonesas para o Brasil…putz, o cara quase me deu um beijo, ele estava emocionado, pois para os japoneses o Brasil era uma coisa inexistente…adquiri então o desenho “Comando Dolbuck”, “Jaspion” e “Changeman” que eram as séries mais novas na época…o curioso é que nesse mesmo dia fiz um contrato para adquirir “Dragon Ball”, pois a série ainda não estava liberada pelos produtores e também me ofereceram “Cavaleiros do Zodíaco”, porém não confiei no potencial da série…Bom, depois voltei pro Brasil e fui mostrar meus produtos…as pessoas ficavam maravilhadas com “Comando Dolbuck”, diziam que aquele desenho seria um estouro…já quando viam o “Jaspion”, “Changeman” ficavam assustados: “Que é isso! O senhor foi até o Japão comprar essas porcarias! Isso é horrível… Ultraman já era…” – aí eu fiquei assustado, e me questionava se tinha feito uma burrada…bom, com a mercadoria na mão botei a equipe na rua para vender as fitas de vídeo… no começo vendíamos em 1 mês, 300 fitas de “Comando Dolbuk” e umas 60, 80 fitas de “Jaspion” e “Changeman”…com o passar do tempo, foi invertendo, as locadoras foram parando de comprar “Comando Dolbuck” e as vendas do “Jaspion” e do “Changeman” batiam 2000 cópias em 1 mês…foi aí que descobri, que os adultos não sabem o que as crianças gostam….apesar dessas vendas estarem crescendo a Everest não me dava lucro, eu tinha uma equipe que saía nas ruas vendendo as fitas pras locadoras, fui, então negociar as séries com as emissoras de TV… primeiro fui no SBT, por intermédio do meu amigo, mas eles não se interessaram…tentei a Globo e ouvi da boca deles: “Na Globo não passa programas japoneses”, a Bandeirantes ainda era um canal mais voltado pro esporte,a Record era uma emissora falida, acabei então na Rede Manchete e fechamos um contrato que não era muito bom pra nenhuma das duas partes… no dia que as séries estrearam na TV, a Everest tinha falido….demiti todos os meus funcionários, pois não tinha como pagá-los….e depois veio aquele sucesso estrondoso que todos vocês devem se lembrar…

Então o senhor esteve na Toei?
Toshi:Nossa você precisa ver como a Toei é… é um lugar gigantesco com vários “barracos”, um atrás do outro, em cada um deles é gravada alguma produção… eles fazem novelas, filmes, as séries dos heróis, é tudo muito grande…. tem cenários de todos os tipos, é muito grande… você precisa conhecer…as produções nunca param, é uma grande fábrica.

E era difícil importar essas séries?
Toshi:Era quase impossível…as leis de importação eram péssimas, não tinha como pagar, pra você ter uma noção, eu tinha que detalhar para o governo quantos metros de rolo estavam sendo importados…e era a maior confusão pois os japoneses me diziam: “a gente está vendendo uma produção e não rolos de fita”, eles não entendiam pra que tanta especificação…tinha que ter tudo relatado, x metros de fita do tipo y contendo os capítulos w, k , z da série tal, mais tantos metros de fita com músicas e efeitos sonoros, mais livros com scripts, era uma complicação enorme…e se viesse uma fita a mais ou a menos, a confusão ficava maior ainda, pois a alfândega achava que tinha algum rolo…e eu ainda era obrigado a comprar uma certa cota de produções nacionais, só que na época nem tinha tanto filme nacional, e os melhores filmes já tinham donos, logo eles ficavam nos empurrando filmes pornôs da pior qualidade, era meio assim: “Você precisa comprar 20 fitas nacionais”, aí o cara filmava uma cenas com umas prostitutas, registrava o nome do filme e me faziam comprar as fitas…era uma grande sacanagem…os filmes eram péssimos, imagem caseira, horríveis, e um dinheiro que eu poderia gastar com mais séries era praticamente que jogado fora com essas produções baratas…

A Everest Vídeo trouxe muitos animes também como Vampire Hunter D, etc…
Toshi:Sim, e eles me custaram uma fortuna na época…esse Vampire Hunter D era um dos melhores animes que já haviam sido produzidos no Japão, era muito caro, negociar esses desenhos…os Hentais faziam muitos sucesso por aqui também…

Com o sucesso das séries, começaram a surgir outras empresas como a Top Tape, Oro Vídeo, vocês eram concorrentes ou era a mesma empresa com nomes diferentes?
Toshi:Não, éramos todos concorrentes … o diretor comercial da Toei dava preferência pra mim, então ele me ligava e dizia: “Toshi, o fulano da Top Tape está aqui querendo comprar Jiraya, Jiban, o senhor vai querer?” … eu dizia que sim e até cheguei a comprar os nomes: Jiraya, Jiban e Lion Man antes deles, porém a Toei tinha que vender as séries e eu acabei passando os nomes das séries para a Top Tape…

E o senhor teve muito lucro com essas séries?
Toshi:Olha eu não posso negar que ganhei dinheiro na época, mas eu ralei muito….pois eu tinha que coordenar tudo, então eu ficava na empresa durante o dia, pegava o carro as 6 da tarde e ia atrás do circo….quando ele estava no Rio de Janeiro, ainda era normal, viajava 6 horas de carro, chegava em cima da hora pra acertar a bilheteria, checar o som, etc…mas teve vezes que saía de SP, e ia de carro pra Campo Grande, pois era onde o circo estava…era uma loucura…eu não parava em nenhum momento…

E, na sua opinião, o que acabou com o Tokusatsu no Brasil?
Toshi:Foi exatamente isso, virou carne de vaca…o diretor comercial da Toei, que é meu amigo até hoje, me ligava e dizia: “Toshi o Zé não sei de onde quer comprar Metalder, Machine Man, o senhor vai querer?”, eu dizia que queria, mas não podia ficar comprando todas as séries, não teria como colocar tudo no ar e se colocasse em outras emissoras eu seria concorrente de mim mesmo, aí cheguei pra ele e disse: “Eu quero essas séries, mas não agora”, aí ele me falou “Mas eu sou diretor comercial, eu trabalho com vendas, meu chefe me mata se eu não vender”, eu disse: “Vende, mas vocês vão acabar com esse gênero de programas no Brasil, vocês estão acabando com o mercado”, a minha idéia era trabalhar de 2 a 3 séries por ano, não colocar 5 séries de uma vez… não dava pra trabalhar o personagem direito e tinha virado carne de vaca, passava na Manchete, na Bandeirantes, até na Globo passou…veja o caso da França, eles souberam trabalhar o “live action” lá e está vivo até hoje… até a JVC do Brasil foi na Toei tentar comprar algumas séries, os japoneses não acreditavam que tantas pessoas queriam comprar as séries….

E o senhor sempre negociou as séries direto com a Toei?
Toshi:Sim, eu sempre comprei as séries direto da Toei…as vezes as fitas estavam nos EUA e elas eram enviadas de lá, os scripts vinham em japonês ou em inglês, mas eu sempre pedia para eles mandarem os scripts em japonês, pois eu queria os originais e não coisas adaptadas…

Existem alguns boatos de que a série Turbo Rangers começou a ser dublada e tanto essa série quanto Liveman possuem seus nomes registrados no INPI pela Everest, essas séries chegaram a vir pro Brasil?
Toshi:Não, eu nunca começaria a dublar algo que eu não tivesse certeza que iria pro ar… sobre o INPI, eu mesmo que registrei, havia o interesse em trazer essas séries, só que eu as negociava com a Toei e já ia me acertando com a emissora, se alguma parte desse errado, eu já descartava…mas vamos supor, eu estou interessado em trazer Liveman e estou negociando essa série, um cara qualquer descobre, corre no INPI e registra o nome…eu estaria ferrado, teria que pagar pro cara, logo a primeira coisa que eu fazia era registrar o nome da série para não correr o risco…infelizmente, nenhuma dessas séries chegou a ser comprada, ficou só na negociação mesmo…sempre que saía uma série nova o diretor da Toei me ligava e já queria me vender (risos).

E o senhor ainda recebe fitas da Toei com séries novas?
Toshi:Até 1 ano e meio atrás sim, não acho que há uns 2 anos atrás…hoje não recebo mais nada, mas as últimas fitas que chegavam eram animes, pois a Saban detém os direitos dos heróis no Ocidente… então vamos supor que eu chego pra Toei e digo que quero comprar tal série, eles vão me mandar falar com a Saban que é a detentora dessa série no Ocidente, chegando na Saban eles vão me empurrar os Power Rangers e não a série japonesa…

E como o senhor e a Saban se acertaram aqui no Brasil, com as séries que o senhor já havia adquirido os direitos?
Toshi:Bom, um dia recebi um telefonema da Saban e a moça me falou: “Quanto o senhor quer pra gente poder passar Metalder no Brasil?”, aí eu vendi as masters pra eles, como foi que Metalder virou mesmo? Troopers né?

E a série do RX?
Toshi:Com essa série a gente fez um contrato diferente…ficou acertado que eu poderia passar a série na TV aberta e eles na tv a cabo.

E sobre as séries que não tiveram o seu final exibido como Spielvan, Black Kamen Rider? Isso era proposital?
Toshi:Olha algumas séries realmente foram manipuladas na época, e a exibição dos finais demorava para acontecer…em alguns casos, eu acredito que o programa acabou saindo do ar e o final acabou nem passando, mas me lembro que teve uma série que veio do Japão sem o final…as pessoas nos ligavam pedindo pra passar o último capítulo, mas nós não tínhamos o
último….por exemplo, a série tinha 51 episódios, aí o Japão me mandou 25 masters com 2 eps em cada, aí veio faltando 1 capítulo…e não valia a pena importar um capítulo, pois era uma complicação trazer as fitas e depois seria muito caro dublar apenas 1 episódio…mas eu não me lembro com qual personagem isso aconteceu…
(Nota do Editor: Infelizmente, tudo leva a crer que essa série seja Black Kamen Rider que não teve seu último episódio exibido por aqui.Vamos tentar confirmar isso…)

E o senhor ainda possui os direitos sobre as séries?
Toshi:Eu preciso fazer um levantamento disso e ver quais contratos já venceram, ou se algum já venceu e tal… eu comprei da Top Tape os direitos de Jiraya, pois essa série é um fenômeno e até renovei os direitos há um tempo atrás…”

E foi por isso que passou na Rede TV há pouco tempo junto com Maskman?
Toshi:Não, eles simplesmente pegaram as fitas que estavam lá e colocaram no ar…eu passei lá pra receber a minha parte e eles me disseram que não iam pagar, aí está essa briga até hoje, estou tentando receber o que eu tenho direito…a Rede Manchete tinha um autorização minha para exibir essas séries, porém eles fizeram o rolo e viraram Rede TV, logo não é a mesma empresa…aí quando cheguei lá, eles me mostraram a minha autorização e eu falei: “Mas a Manchete estava autorizada, a Rede TV não, ou vcs são a mesma empresa?” – aí as séries saíram do ar e tô tentando receber até hoje…

E o senhor pretende trabalhar com isso novamente algum dia?
Toshi:Olha eu não posso dizer que nunca mais mexerei com isso, mas no momento eu prefiro esperar ver o que vai acontecer com o mercado…quem sabe daqui há uns 5 ou 10 anos, o momento não seja propício novamente…

Mas o senhor chegou a oferecer por exemplo “Jaspion” para alguma emissora nesses últimos 2 anos?
Toshi:Não e acho que mesmo que essa série voltasse ao ar quem iria assistir seriam os saudosistas, não acredito que o personagem teria aquele sucesso todo, pois a época é outra…hoje, não vivemos sem Internet, e antes nem sonhávamos com isso…as crianças de hoje são diferentes das de antigamente, então eu não traria uma série antiga de volta. Se eu fosse trabalhar com isso novamente eu compraria um herói atual, uma produção mais nova, para as crianças de hoje se identificarem….

Spielvan, no Brasil, foi batizado de “Jaspion 2”, por sugestão do senhor ou da Rede Manchete?
Toshi:Foi um jeito que nós encontramos de chamar mais atenção pra série, foi puro marketing mesmo…. Na época, o nome “Jaspion” estava muito forte aqui no Brasil, então achamos que seria melhor trabalhar o personagem “Jaspion 2”, ao invés de “Spielvan”.

E o senhor participava das dublagens, quem escolhia os nomes, pois muitos deles são diferentes dos originais?
Toshi:Sim, sim, a gente sentava e via o que soava melhor…a gente procurava manter um nome japonês, mas que não ficasse muito estranho aqui no Brasil… Você se lembra que o Winspector falava “Jackan”? Eu que inventei essa palavra. No original, ele fala algo como “Tchaka”, que significa algo como “colocar a roupa de combate”, porém a gente não tinha uma palavra legal em Português e “Tchaka” soaria meio estranho (risos), aí criamos a palavra “Jackan”, como se fosse um código, um grito de guerra, algo assim…
Em Jaspion, um dos últimos nomes a serem inventados foi Mc Garen, no original, é Mad Galant…

E como foi a repercussão das últimas séries (Winspector, Solbrain, Patrine) que o senhor trouxe?
Toshi:Olha Winspector foi muito bem, a série rendeu bem, posso dizer que foi um bom negócio. Já Solbrain, eu troquei seis por meia-dúzia, ela foi uma série média, bom, talvez eu tenha trocado seis por sete… Patrine foi um furo n’água, só me deu prejuízos…e no Japão, a série era um sucesso, a gente ia trazer até mais heroínas, mas aqui Patrine não aconteceu…a gente inventou o nome Patrine, no original é algo como “Puótrin”…meio Francês…

E qual foi a série que te deu mais prejuízos?
Toshi:Não sei dizer ao certo qual foi a série que mais me deu prejuízo, pois eu lucrava com os licenciamentos, eu tinha uma indústria de brinquedos e se você for ver o desenho Yu Yu Hakusho tinha audiência, mas só me trouxe prejuízos, pois não tinha muitos produtos pra serem lançados…Já Shurato, tinha poucos episódios, e eu faturei com muitos brinquedos e outros produtos relacionados a série…então fica meio difícil citar apenas uma série. Me lembro que Metalder não fazia sucesso com as crianças, era uma tristeza, o herói vivia num drama, ele só apanhava e ainda tinha uns 50 monstros…putz, como tinha monstro…e de fundo tinha aquela música triste……não tinha como uma criança gostar daquilo…

E as armaduras usadas nos eventos ainda estão com o senhor?
Toshi:Sim, aquelas armaduras eram as originais dos seriados. Não sei se vocês sabem, mas existem várias armaduras, uma para close, outras para cenas de luta e eram essas que vinham pro Brasil, as de luta, que são mais maleáveis… A gente trazia elas na raça mesmo, em caixas gigantes de papelão… As armaduras estão guardadas, a de Jaspion está bem detonada, pois foi muito usada, já a do Solbrain está novinha. Eu cheguei a doar uma armadura para o pessoal da Abrademi e outra está na Argentina…mas eu não sei quais são esses personagens, eu cheguei a vender uma série para a Argentina e ela nem chegou a ser exibida na TV, mas a armadura está lá até hoje.

Bom, Sr. Toshi muito obrigado pela a sua atenção, acredito que as dúvidas de muitos fãs foram retiradas…
Toshi: O que é isso, eu que agradeço…obrigado a vocês…”

Fonte: SNK-NeoFighters

Outra entrevista muito boa sobre o mesmo assunto pode ser encontrada aqui.

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