Robert Kirkman Vs. Brian Michael Bendis

 

Desde que Robert Kirkman provocou os criadores de quadrinhos com um vídeo, em agosto, vários dos grandes nomes da HQs norte-americanas têm rebatido os argumentos do autor de Invencível. Um dos que mais comenta o assunto é o escritor Brian Michael Bendis, o grande nome atual da Marvel. Assim, a Baltimore Comic Con convidou Kirkman e Bendis para debater o tema, em frente ao público.

A posição de Kirkman: os grandes criadores de HQ deveriam concentrar-se em trabalho autoral, sob o qual retêm os direitos sobre personagens e publicação. Assim, podem fazer mais dinheiro a longo prazo, vendendo suas criações para Hollywood ou para a TV e escrevendo ou desenhando o que realmente gostam. E mais: editoras como Marvel e DC, cujos criadores contratados abrem mão de seus direitos autorais, deveriam publicar mais material para crianças, garantindo a renovação do mercado.

A posição de Bendis: são poucos os criadores que realmente conseguem o sucesso com trabalho autoral. A maioria das HQs desse tipo vende muito pouco e não sustenta uma carreira. Vale a pena, sim, continuar trabalhando para as grandes editoras enquanto se mantém um trabalho autoral paralelo – o que é algo que demanda muito trabalho e também é para poucos.

Os dois têm biografias distintas, mas de sucesso. Bendis era cartunista de jornal e publicava HQs autorais independentes no início dos anos 90, de sucesso de crítica e baixíssimas vendas. Foi contratado pela Marvel no final da década, como escritor, e hoje é o nome mais requisitado da editora (Homem-Aranha Ultimate, Novos Vingadores, Dark Avengers, Spider-Woman). Mantém um projeto autoral, a série Powers, editada (a convite) pela Marvel.

Kirkman começou a publicar HQs independentes em meados dos anos 90, mas só começou a fazer sucesso com duas séries autorais que lançou na Image: Invencível e Os Mortos-Vivos. Seu destaque na crítica levou-o a trabalhos na Marvel, como as minisséries Zumbis Marvel. Recentemente, ele virou sócio e editor-chefe da Image Comics, abandonando todos os trabalhos em outras editoras.

O debate foi amistoso, apesar de um não concordar com o outro. E, como os fãs queriam ver sangue, os dois criadores resolveram trocar algumas farpas sonoras (e gestuais) durante o debate – para animar a galera. Após as apresentações, Kirkman pegou o microfone, conferiu se não havia crianças na platéia e soltou um leve “fuck you” para Bendis. Os dois trocaram vários “fuck you” antes da conversa realmente começar.

Bendis lançava a maioria dos tópicos. Começou a usar a metáfora do “ar rarefeito” para referir-se aos poucos criadores que conseguem manter uma carreira nas grandes editoras e trabalhos autorais – como ele, Kirkman, Ed Brubaker (Demolidor, Criminal), Mark Millar (Kick-Ass, Quarteto Fantástico) e Grant Morrison (Final Crisis, We3) -, que estão no topo das listas dos fãs.

Kirkman: “Esse ar rarefeito é tão delicioso que todo mundo deveria aproveitar junto. O cheiro é ótimo.” Bendis: “Cheira a Quesada” (a Marvel de Joe Quesada contrata a maioria dos grandes nomes das HQs atuais). Kirkman: “Na verdade, não cheira, e fico feliz por isso.” O editor da Image ressaltou o caso dos Irmãos Luna (Ultra, Girls), que vivem somente de quadrinhos autorais.

Passaram a um exemplo hipotético: “o cara que escreve Arqueiro Verde”, para ficar em um personagem de propriedade de uma grande editora, sem grande destaque crítico. Kirkman defende que é o tipo de escritor que deveria ser convencido a passar para o lado das HQs autorais. Já Bendis defende que há autores no mercado que só estão interessados em ficar escrevendo séries tipo Arqueiro Verde e garantir seu salário. Se tiverem interesse, podem manter um trabalho autoral paralelo.

Os dois ressaltaram suas próprias biografias para justificar seus argumentos – mesmo que para posições contrárias. Bendis ressaltou que passou anos com trabalhos extras enquanto fazia HQ independente, para poder se manter financeiramente antes do sucesso chegar. Kirkman mostrou o sucesso de suas séries Invencível e Mortos-Vivos em gráficos de vendas. Bendis ressaltou que Os Mortos-Vivos subiu consideravelmente em vendas após Kirkman lançar Zumbis Marvel, um trabalho não-autoral em uma grande editora.

A discussão seguiu sem ninguém mudar de idéia. Ao final, os dois concordaram em uma coisa: quem, na platéia, estivesse estimulado pelo debate, deveria correr para um computador para começar a escrever “algo fantástico”. Bendis: “É isso que eu espero: que qualquer um de vocês vá criar algo espetacular”.

O melhor momento do debate foi quando Kirkman, no máximo do sarcasmo, soltou: “Você acaba de anunciar Dark Avengers, né? Que sensacional! Uma nova série dos VINGADORES! Quem imaginaria? E eles são sombrios? Vai ser sombrio! Que gibi legal para dar para o meu filho!”

Bendis apenas coçou o nariz com o dedo médio. A platéia veio abaixo. Veja o debate:
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Fonte: Omelete

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